Por Cristiane Gomes, Deise de Souza e Gisèlle Freitas.
Professora Jaqueline
Cunha
A
linguagem pode ser entendida como um instrumento usado para comunicação e
expressão que se apresenta em diferentes formatos como a fala, a escrita, o
gesto, o desenho, a dramatização ou também como uma atividade de interação em
que, por intermédio dela, os indivíduos praticam ações, que envolvem tanto fala
quanto escrita, considerando o contexto envolvido no ato comunicativo. Segundo Travaglia (2002, p.23),
(...) o
que o indivíduo faz ao usar a língua não é tão-somente traduzir e exteriorizar
um pensamento, ou transmitir informações a outrem, mas sim realizar ações,
agir, atuar sobre o interlocutor (ouvinte/leitor). A linguagem é, pois, um
lugar de interação humana, de interação comunicativa pela produção de efeitos
de sentido entre interlocutores, em uma dada situação de comunicação e em um
contexto sócio-histórico e ideológico. Os usuários da língua ou interlocutores
interagem enquanto sujeitos que ocupam lugares sociais e “falam” e “ouvem”
desses lugares de acordo com formações imaginárias (imagens) que a sociedade
estabeleceu para tais lugares sociais (...).
Observando as crianças, podemos perceber que
através da linguagem (falada, escrita ou corporal) elas demonstram seu
entendimento a respeito dos acontecimentos, suas expectativas e sonhos, seus
sentimentos e anseios bem como suas vivências relacionadas ao contexto
histórico-sócio e cultural ao qual estão envolvidas. Nesse sentido, a oralidade
mostra-se como importante ferramenta para narração e expressão da criança assim
como para sua integração ao grupo (familiar ou escolar), sendo a memorização
obtida através das experiências, que possibilita essa expressividade. Regina
Zilberman (2006, p. 117-132) ao se reportar ao texto de Walter Benjamin (1985)
diz que “as pessoas contam o que experimentaram, o que se aloja em sua memória.
Quando querem esquecer experiências negativas, ficam sem ter o que contar. O
narrar, por sua vez, supõe a presença de ouvintes, e estes não são indivíduos
isolados, mas o grupo: a narração só tem sentido se dirigida ao coletivo”.
Em nossa profissão torna-se importante conhecermos esses conceitos, pois no ambiente escolar é possível desenvolver um trabalho de linguagem que explore a oralidade e proporcione a ampliação do vocabulário das crianças. Em muitos casos, a escola é o único espaço em que elas têm liberdade de expressão e acesso a conhecimentos informativos e formativos.
A
PESQUISA
A partir
do estudo sobre oralidade, na disciplina de Língua Portuguesa, do curso de
Pedagogia, no IFRS – campus Porto Alegre, por sugestão da professora Jaqueline
Cunha, foram realizadas atividades de observação do desenvolvimento desse aspecto
nos estudantes das turmas em que atuamos profissionalmente. Nossa pesquisa foi
realizada em uma turma de 2° ano, em que as crianças possuem em média de 7 a 8
anos de idade, na qual foram aplicadas duas atividades sendo a primeira
desenvolvida apenas oralmente e a segunda, unindo também a escrita. Para sua
realização foram escolhidas duas músicas pertencentes ao universo infantil, de
acordo com a faixa etária dos estudantes, sendo elas, respectivamente, “Fui
morar numa casinha”, de sabedoria popular e “A casa”, de Vinicius de Morais.
Primeiramente, as crianças cantavam a música “da casinha” em sua forma original
e depois, oralmente e em grupos, criavam variações utilizando a ideia de tipos de
moradia. Num segundo momento, foi
apresentada a música “A casa” e explorada em princípio como canto e depois como
escrita. As crianças reescreveram a letra
da mesma criando suas próprias versões individualmente. Observamos que no caso
da segunda atividade, na versão escrita pelas crianças, houve uma ligação com o
universo dos Contos de Fadas talvez pelo fato de a letra da música começar com
a frase “Era uma casa (...)” semelhante ao que acontece com esse tipo de
história que inicia com “Era uma vez”. As crianças também fizeram associações
com fatos de seu cotidiano, com seus medos e com criações de seu imaginário
típicas dessa faixa etária. A facilidade no entendimento e na realização da
atividade também chamou nossa atenção bem como a desenvoltura e a criatividade
das crianças observadas durante seu desenvolvimento.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Através
da pesquisa, constatamos que possibilitar atividades em que através da
oralidade as crianças possam expressar-se, auxilia-as na acomodação e no
entendimento de questões que para elas são complexas como, por exemplo, os
seres imaginários. Percebemos também que
elas buscam em suas vivências subsídios para realizar suas produções, tanto
orais como escritas, e que essas devem ser observadas com muita atenção, pois nos
ajudam a conhecê-las melhor e a entender suas atitudes em sala de aula. Verificamos
que, por meio de estímulos e de atividades de experimentação, o professor
estará oportunizando ao aluno a ampliação de seu conhecimento, o enriquecimento
de sua experiência de vida e o preenchimento de seu eixo paradigmático, visto
que aumentará o campo lexical e semântico do mesmo. Deixamos aqui o convite a
todos nós, professores, para refletirmos a respeito da pergunta: Em minha
prática pedagógica dou oportunidade e espaço para meus alunos se expressarem
através da oralidade?
Referências
Bibliográficas:
TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º graus. 8ª ed. São Paulo: Cortez, 2002. (1ª edição: 1995).
ZILBERMAN, Regina. Memória entre oralidade e escrita. PUCRS Letras de Hoje. Porto
Alegre, v. 41, n. 3, p. 117-132, setembro, 2006.
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