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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A oralidade como um instrumento de expressão utilizado pelas crianças


Por Cristiane Gomes, Deise de Souza e Gisèlle Freitas.

Professora  Jaqueline Cunha

A linguagem pode ser entendida como um instrumento usado para comunicação e expressão que se apresenta em diferentes formatos como a fala, a escrita, o gesto, o desenho, a dramatização ou também como uma atividade de interação em que, por intermédio dela, os indivíduos praticam ações, que envolvem tanto fala quanto escrita, considerando o contexto envolvido no ato comunicativo. Segundo Travaglia (2002, p.23),

(...) o que o indivíduo faz ao usar a língua não é tão-somente traduzir e exteriorizar um pensamento, ou transmitir informações a outrem, mas sim realizar ações, agir, atuar sobre o interlocutor (ouvinte/leitor). A linguagem é, pois, um lugar de interação humana, de interação comunicativa pela produção de efeitos de sentido entre interlocutores, em uma dada situação de comunicação e em um contexto sócio-histórico e ideológico. Os usuários da língua ou interlocutores interagem enquanto sujeitos que ocupam lugares sociais e “falam” e “ouvem” desses lugares de acordo com formações imaginárias (imagens) que a sociedade estabeleceu para tais lugares sociais (...).

Observando as crianças, podemos perceber que através da linguagem (falada, escrita ou corporal) elas demonstram seu entendimento a respeito dos acontecimentos, suas expectativas e sonhos, seus sentimentos e anseios bem como suas vivências relacionadas ao contexto histórico-sócio e cultural ao qual estão envolvidas. Nesse sentido, a oralidade mostra-se como importante ferramenta para narração e expressão da criança assim como para sua integração ao grupo (familiar ou escolar), sendo a memorização obtida através das experiências, que possibilita essa expressividade. Regina Zilberman (2006, p. 117-132) ao se reportar ao texto de Walter Benjamin (1985) diz que “as pessoas contam o que experimentaram, o que se aloja em sua memória. Quando querem esquecer experiências negativas, ficam sem ter o que contar. O narrar, por sua vez, supõe a presença de ouvintes, e estes não são indivíduos isolados, mas o grupo: a narração só tem sentido se dirigida ao coletivo”.

          Em nossa profissão torna-se importante conhecermos esses conceitos, pois no ambiente escolar é possível desenvolver um trabalho de linguagem que explore a oralidade e proporcione a ampliação do vocabulário das crianças. Em muitos casos, a escola é o único espaço em que elas têm liberdade de expressão e acesso a conhecimentos informativos e formativos.


A PESQUISA

A partir do estudo sobre oralidade, na disciplina de Língua Portuguesa, do curso de Pedagogia, no IFRS – campus Porto Alegre, por sugestão da professora Jaqueline Cunha, foram realizadas atividades de observação do desenvolvimento desse aspecto nos estudantes das turmas em que atuamos profissionalmente. Nossa pesquisa foi realizada em uma turma de 2° ano, em que as crianças possuem em média de 7 a 8 anos de idade, na qual foram aplicadas duas atividades sendo a primeira desenvolvida apenas oralmente e a segunda, unindo também a escrita. Para sua realização foram escolhidas duas músicas pertencentes ao universo infantil, de acordo com a faixa etária dos estudantes, sendo elas, respectivamente, “Fui morar numa casinha”, de sabedoria popular e “A casa”, de Vinicius de Morais. Primeiramente, as crianças cantavam a música “da casinha” em sua forma original e depois, oralmente e em grupos, criavam variações utilizando a ideia de tipos de moradia.          Num segundo momento, foi apresentada a música “A casa” e explorada em princípio como canto e depois como escrita.  As crianças reescreveram a letra da mesma criando suas próprias versões individualmente. Observamos que no caso da segunda atividade, na versão escrita pelas crianças, houve uma ligação com o universo dos Contos de Fadas talvez pelo fato de a letra da música começar com a frase “Era uma casa (...)” semelhante ao que acontece com esse tipo de história que inicia com “Era uma vez”. As crianças também fizeram associações com fatos de seu cotidiano, com seus medos e com criações de seu imaginário típicas dessa faixa etária. A facilidade no entendimento e na realização da atividade também chamou nossa atenção bem como a desenvoltura e a criatividade das crianças observadas durante seu desenvolvimento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através da pesquisa, constatamos que possibilitar atividades em que através da oralidade as crianças possam expressar-se, auxilia-as na acomodação e no entendimento de questões que para elas são complexas como, por exemplo, os seres imaginários.  Percebemos também que elas buscam em suas vivências subsídios para realizar suas produções, tanto orais como escritas, e que essas devem ser observadas com muita atenção, pois nos ajudam a conhecê-las melhor e a entender suas atitudes em sala de aula. Verificamos que, por meio de estímulos e de atividades de experimentação, o professor estará oportunizando ao aluno a ampliação de seu conhecimento, o enriquecimento de sua experiência de vida e o preenchimento de seu eixo paradigmático, visto que aumentará o campo lexical e semântico do mesmo. Deixamos aqui o convite a todos nós, professores, para refletirmos a respeito da pergunta: Em minha prática pedagógica dou oportunidade e espaço para meus alunos se expressarem através da oralidade?


Referências Bibliográficas:

   TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º graus. 8ª ed. São Paulo: Cortez, 2002. (1ª edição: 1995).

    ZILBERMAN, Regina. Memória entre oralidade e escrita. PUCRS Letras de Hoje. Porto Alegre, v. 41, n. 3, p. 117-132, setembro, 2006.



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